8 de jun. de 2015

A Carência do Toque, da Proximidade

Tenho uma rotina bastante corrida. Moro num bairro da periferia de São Paulo, extremo norte, quase oeste. Acordo por volta das 5h para ir à aula, estudo numa universidade do outro lado da cidade e devo entrar na aula às 7h30, pra isso devo pegar um ônibus, um trem e um metrô. Neste trajeto vejo centenas, talvez milhares de completos estranhos todo dia. Ao chegar à universidade mais algumas centenas de rostos desconhecidos cruzam meu caminho, campus cheio, elevadores e escadas lotados...

Ao término d'aula sigo rumo ao metrô novamente para trabalhar, e de novo, mais algumas centenas de completos estranhos cruzam meu caminho, muito esporadicamente surge um rosto familiar, efeito do trajeto diário quase sempre no mesmo horário. Para sair este horário é mais flexível, e, de novo uma nova maratona no transporte público; metrô, trem e ônibus, centenas de rostos cansados, felizes, apreensivos, chorosos, sisudos, sérios, despreocupados; mas ainda assim, todos desconhecidos.

Com a mesma frequência e raridade de um eclipse, por vezes, surge alguém neste trajeto todo que acaba por me chamar a atenção de alguma forma. Uma rápida troca de olhares, um sorriso tímido, uma criança gargalhando alto, um casal trocando carícias, um toque involuntário... E é ai que eu queria chegar. Quando estes toques vem, toda sorte de sensações vem com ele. Calor s frio. Conforto e estranheza. Alívio e agonia. Tudo em segundos. Então um pedido desconcertado e imediato de desculpas. Cada um segue seu caminho. Mas... Às vezes... Às vezes vem também uma urgência estranha, crescente, quente, irresistivelmente desconfortável, de olhar aquela pessoa nos olhos e dizer alguma coisa além. "Oi! Eu tive um dia de merda, como foi o seu?" ou "Eu cansei dessa correria toda. Quer parar cinco minutos pra tomar um café e conversar?". Tudo isso por um sutil toque de antebraços. Um resvalar de dedos na barra de metal do ônibus.

Mas não. Ninguém faz isso. Eu não faço isso. Seria estranho demais. Chegamos a um ponto em que, veja só, querer conhecer alguém, querer dividir pesares ou prazeres do dia a dia com alguém não é normal. Não se esta pessoa não figura entre os regulares dos teus círculos sociais. Ainda que todos os instintos digam que não há nada demais.

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