26 de mar. de 2020

Bolsonaro e os 55 anos do Golpe de 1964

Resolvi a partir de hoje fazer uso deste blog para fazer "backup" de todos os textos que escrevi ao longo dos anos, este foi publicado originalmente no dia 26 de Março de 2019. Segue:

Cortina de fumaça que fala, né? Se chegar ao fim do mandato, toda a administração Biroliro vai ser assim, dizer ou fazer umas merdas propositalmente pra esconder outras piores ou os reais problemas que a administração se recusa a se mexer pra resolver. A da vez é a comemoração do aniversário do golpe de estado aplicado pelos generais do exército brasileiro em 1964. Ok, ele é um boçal cercado de outros boçais que de fato reverência a ditadura militar brasileira como "revolução", mas escolher comemorar não é exatamente só pela comemoração. A base do governo na câmara tá uma bagunça e os aliados estão batendo cabeça, seus ministros estão divergindo entre si, o desemprego já atinge 13 milhões de pessoas, o combustível não para de subir desde que ele assumiu, existem indícios de que o presidente e sua família tem relação bastante próxima - isso se não participam diretamente - de milícias que tem dominado o RJ. Eu concordo que é um absurdo querer comemorar um capítulo tão sombrio e vexaminoso da história desse país e que sim, tem que fazer barulho mesmo pra mostrar descontentamento e discordância, mas convenhamos que essa administração não dá a mínima foda pra opinião pública ou pra imagem que está construindo, aqui dentro ou fora do país, o presidente é um militar frustrado, incompetente em tudo o que se prestou a fazer, usando de meios escusos pra alcançar seu objetivos, turrão que não sabe nem quer ser contrariado em hipótese alguma e não dá ouvidos sequer a seus pares e aliados, o clássico velho branco hétero pseudo-conservador que quer ter razão e não tem a menor capacidade de admitir sua própria pequenez. Ele não foi eleito pelo povo, ninguém nessa democracia burguesa é. Ele atende interesses alheios, daqueles que financiaram sua campanha por meios ilícitos e obscuros, tem copiado a estratégia do estadunidense saco de bosta polvilhado com poeira de doritos, nega tudo o que está documentado e tenta descreditar qualquer veículo que o contrarie, mesmo que este apresente evidências óbvias e bastante tangíveis. O que me dá alguma esperança é que essa corja de canalhas está morrendo, minha geração e, principalmente, a geração seguinte, estão esperando essas pragas morrerem pra que as coisas possam finalmente começar a ficar um pouco melhores.

13 de dez. de 2018

Celebrar a Vida

Vivo em constante conflito existencial. E quando digo constante, eu falo sério. Acordo diariamente questionando o porquê de tudo ser como é, de tudo ter chegado ao ponto que chegou, mas principalmente, questiono a mim, minha razão de ser e o que faço aqui. Já se vão pra lá de 15 anos nessa constância e, obviamente, não cheguei a conclusão nenhuma.
Pra mim viver sempre foi dolorido. Por várias razões. Algumas convergentes, outras desconexas. É difícil até pra eu mesmo tentar entender essa bagunça, criar a partir de tamanha zona algum sentido, mais ainda, transcrever e fazer com que outros entendam é improvável, virtualmente impossível.
Cresci ouvindo o quão estúpida era a adoração e busca pela juventude. Ora... Será mesmo? Entendo que conceitual e praticamente esta de fato não tenha nenhum sentido, mas quem pode nos culpar? O tempo é nosso inimigo natural, quanto mais ele passa, mais próximos estamos do fim. E isso é universal, não importa quais suas crenças ou a ausência delas, o passar do tempo é um lembrete cruel de que nossa vida é finita e findável, a cada dia que vivemos, seja este bom ou ruim, estamos um passo mais perto do fim disso aqui.

O que quer que seja isso aqui.
Uma jornada, uma passagem, um ciclo, ou só um conjunto randômico de eventos.

Eu sou depressivo. E sim, eu sei muito bem a diferença entre ser e estar, quisera eu que a depressão aqui fosse passageira, mas ela me acompanha desde que me lembro. Do primeiro bocejo ao fechar de olhos ao fim do dia. Nas brincadeiras, no colégio, nas festas, nas baladas, no trabalho, na universidade, nos relacionamentos... Ela sempre está aqui. Às vezes mais branda, outras mais implacável, mas sempre... Constante.

As circunstâncias todas que me fizeram eu, que me trouxeram aqui, nunca foram das mais favoráveis, especialmente pra alguém com a química cerebral, problemas emocionais ou como queira chamar, que eu tenho. Ainda assim a vida se encarrega sempre de bater mais e mais forte. Um amigo perdido pras drogas, uma vida acadêmica em frangalhos, uma vida profissional que não engata, uma vida afetiva risível, doenças na família, nos amigos... A vida só não dá trégua.

Eu confesso que chorar virou hábito. Assim como a tristeza que segue... Bem... Constante.

Depois de quase 30 anos aqui eu finalmente consegui entender um pouco melhor a minha relação pessoal com a morte. Sempre houve aqui, como disse, uma dor em estar vivo. Acordar, levantar e viver todo dia é trabalho árduo. Eu passei minha adolescência e vida adulta até recentemente pensando querer morrer. Suicídio é uma ideia que perpassa meus pensamentos com maior frequência do que gostaria de admitir e, francamente, me admira que eu ainda esteja aqui e que ainda consiga encontrar algum sentido em tentar expressar tudo isto de uma forma ou de outra. Desistir e se deixar levar é extremamente tentador.

Extremamente tentador.

E acredite quando eu digo, o que segura e impede um suicida não é o medo do que pode vir a seguir, mas de que a dor seja ainda pior no processo de morrer e, principalmente, a capacidade de conseguir encontrar alguma beleza no meio dessa entropia que chamamos de vida.
Apesar de todos os estereótipos a nós, depressivos e suicidas, atribuídos, posso garantir que somos em maioria extremamente sensíveis e empáticos, e a raiz de nossa dor aí reside. Muitas vezes nos fechamos e escondemos, não por egoísmo, mas por medo. Da dor, da perda, do sofrer do outro. Quando entendi isso resolvi tentar mudar de postura. Ao invés de me esconder e tentar escapar dessas coisas, resolvi abraçá-las e delas tirar a razão de aqui seguir. Porque eu não pretendo, enquanto aqui estiverem pessoas que eu amo, deixar esse lugar. Não por vontade própria. Não vou deixar que carreguem o fardo de viver sozinhos. Com eles vou seguir tentando encontrar o belo nas pequenas coisas. Lembrar com ternura de cada abraço, de cada sorriso, rir e se emocionar com cada obstáculo vencido, independente do tamanho. E me emocionar com todos os vídeos de cachorro que eu puder.
Eu nunca acreditei em ordem natural das coisas, seres superiores ou destino, mas se quaisquer dessas coisas é real em algum nível, o meu chamado, a minha natureza, é estar aqui por vocês e pra vocês. Vocês sabem quem são e espero que saibam da minha sinceridade no que digo aqui.

"[...]
Oh I'm a lucky man
To count on both hands the ones I love
[...]"


Eu vou seguir lutando pra nunca abandonar vocês.

7 de abr. de 2017

Depressão é como estar no meio de uma piscina um pouco mais funda que a sua altura, sem saber nadar. A cada impulso que você dá no fundo pra pegar um pouco de fôlego parece que vai ficando cada vez mais funda, milímetro a milímetro. Cada vez vai ficando mais e mais difícil pra ter forças de impulsionar seu peso até a superfície. Pra mim cada fôlego tomado sempre foi uma distração, alguma coisa que me fizesse me sentir bem. Uma maratona de videogames, conseguir entrar num emprego legal, ter uma noite de sexo com alguém que eu mal conheço, receber qualquer tipo de elogio por ter conseguido fazer qualquer coisa meramente notável... Qualquer coisa que me fizesse sentir bem comigo mesmo e/ou perante os outros. Funcionou por bastante tempo. Eu sequer percebi o quanto a piscina foi ficando cada vez mais funda, minhas pernas cada vez mais cansadas, as tomadas de fôlego cada vez mais curtas. Até que eu percebi. As coisas que eu eventualmente precisei fazer pra surtir o mesmo efeito, dar o mesmo barato, foram ganhando mais complexidade, até que eu cansei. A força pra chegar a superfície com o tempo deixou de compensar. Não sei. Tentar tanto estar acima da água, estar sempre entorpecido por qualquer que fosse a atividade que me fizesse sentido, que me deixasse alto, é exaustivo. Especialmente porque se eu me distraio, se deixo o barato passar por um minuto que seja, se eu tento boiar por um segundo sequer, eu afundo como uma pedra. É cansativo pra caralho ficar atrás de mais um baque, o comportamento é exatamente o mesmo de alguém viciado em algum tipo de substância. Você precisa de mais, cada vez mais, até que dosagem nenhuma funciona. Só me deixar afundar e me conformar com o fundo tem sido cada vez mais tentador.

 PS. Se esse relato parecer próximo de alguma coisa que tenha visto antes é porque eu estou sob influência de dois shows de stand up que tenho visto quase que diariamente, estes tem como objeto principal pressão social, senso de fracasso e depressão. heh

8 de jun. de 2015

A Carência do Toque, da Proximidade

Tenho uma rotina bastante corrida. Moro num bairro da periferia de São Paulo, extremo norte, quase oeste. Acordo por volta das 5h para ir à aula, estudo numa universidade do outro lado da cidade e devo entrar na aula às 7h30, pra isso devo pegar um ônibus, um trem e um metrô. Neste trajeto vejo centenas, talvez milhares de completos estranhos todo dia. Ao chegar à universidade mais algumas centenas de rostos desconhecidos cruzam meu caminho, campus cheio, elevadores e escadas lotados...

Ao término d'aula sigo rumo ao metrô novamente para trabalhar, e de novo, mais algumas centenas de completos estranhos cruzam meu caminho, muito esporadicamente surge um rosto familiar, efeito do trajeto diário quase sempre no mesmo horário. Para sair este horário é mais flexível, e, de novo uma nova maratona no transporte público; metrô, trem e ônibus, centenas de rostos cansados, felizes, apreensivos, chorosos, sisudos, sérios, despreocupados; mas ainda assim, todos desconhecidos.

Com a mesma frequência e raridade de um eclipse, por vezes, surge alguém neste trajeto todo que acaba por me chamar a atenção de alguma forma. Uma rápida troca de olhares, um sorriso tímido, uma criança gargalhando alto, um casal trocando carícias, um toque involuntário... E é ai que eu queria chegar. Quando estes toques vem, toda sorte de sensações vem com ele. Calor s frio. Conforto e estranheza. Alívio e agonia. Tudo em segundos. Então um pedido desconcertado e imediato de desculpas. Cada um segue seu caminho. Mas... Às vezes... Às vezes vem também uma urgência estranha, crescente, quente, irresistivelmente desconfortável, de olhar aquela pessoa nos olhos e dizer alguma coisa além. "Oi! Eu tive um dia de merda, como foi o seu?" ou "Eu cansei dessa correria toda. Quer parar cinco minutos pra tomar um café e conversar?". Tudo isso por um sutil toque de antebraços. Um resvalar de dedos na barra de metal do ônibus.

Mas não. Ninguém faz isso. Eu não faço isso. Seria estranho demais. Chegamos a um ponto em que, veja só, querer conhecer alguém, querer dividir pesares ou prazeres do dia a dia com alguém não é normal. Não se esta pessoa não figura entre os regulares dos teus círculos sociais. Ainda que todos os instintos digam que não há nada demais.

25 de out. de 2014

Saudade

Saudade.

Palavra curta, sem tradução... Mas que ao mesmo tempo sintetiza todo um emaranhado de sentimentos. Pode ser definida ainda como um sentimento por si só, independente, imponente...
Pode trazer risadas espontâneas, causar insana euforia, levar a depressão profunda e, em alguns casos, tudo isso junto,  toda uma sorte de derivados e variações.
Saudade de si, de outros, de situações. Períodos, lugares...
Saudade de sabores, cores, amizades e amores. Saudades de abraços e afagos, beijos e amassos, de palavras e prosas, daquele cheiro de rosas, de idéias expostas, de devaneios soltos, daquele terraço. De quem pra sempre se foi, de quem vai voltar, de quem se quer de volta. De brincar e rir, do dedo estourar, de fingir ser rei, imaginar voar... De jogar, pular, olhar o céu, viajar...


Saudade.

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