13 de dez. de 2018

Celebrar a Vida

Vivo em constante conflito existencial. E quando digo constante, eu falo sério. Acordo diariamente questionando o porquê de tudo ser como é, de tudo ter chegado ao ponto que chegou, mas principalmente, questiono a mim, minha razão de ser e o que faço aqui. Já se vão pra lá de 15 anos nessa constância e, obviamente, não cheguei a conclusão nenhuma.
Pra mim viver sempre foi dolorido. Por várias razões. Algumas convergentes, outras desconexas. É difícil até pra eu mesmo tentar entender essa bagunça, criar a partir de tamanha zona algum sentido, mais ainda, transcrever e fazer com que outros entendam é improvável, virtualmente impossível.
Cresci ouvindo o quão estúpida era a adoração e busca pela juventude. Ora... Será mesmo? Entendo que conceitual e praticamente esta de fato não tenha nenhum sentido, mas quem pode nos culpar? O tempo é nosso inimigo natural, quanto mais ele passa, mais próximos estamos do fim. E isso é universal, não importa quais suas crenças ou a ausência delas, o passar do tempo é um lembrete cruel de que nossa vida é finita e findável, a cada dia que vivemos, seja este bom ou ruim, estamos um passo mais perto do fim disso aqui.

O que quer que seja isso aqui.
Uma jornada, uma passagem, um ciclo, ou só um conjunto randômico de eventos.

Eu sou depressivo. E sim, eu sei muito bem a diferença entre ser e estar, quisera eu que a depressão aqui fosse passageira, mas ela me acompanha desde que me lembro. Do primeiro bocejo ao fechar de olhos ao fim do dia. Nas brincadeiras, no colégio, nas festas, nas baladas, no trabalho, na universidade, nos relacionamentos... Ela sempre está aqui. Às vezes mais branda, outras mais implacável, mas sempre... Constante.

As circunstâncias todas que me fizeram eu, que me trouxeram aqui, nunca foram das mais favoráveis, especialmente pra alguém com a química cerebral, problemas emocionais ou como queira chamar, que eu tenho. Ainda assim a vida se encarrega sempre de bater mais e mais forte. Um amigo perdido pras drogas, uma vida acadêmica em frangalhos, uma vida profissional que não engata, uma vida afetiva risível, doenças na família, nos amigos... A vida só não dá trégua.

Eu confesso que chorar virou hábito. Assim como a tristeza que segue... Bem... Constante.

Depois de quase 30 anos aqui eu finalmente consegui entender um pouco melhor a minha relação pessoal com a morte. Sempre houve aqui, como disse, uma dor em estar vivo. Acordar, levantar e viver todo dia é trabalho árduo. Eu passei minha adolescência e vida adulta até recentemente pensando querer morrer. Suicídio é uma ideia que perpassa meus pensamentos com maior frequência do que gostaria de admitir e, francamente, me admira que eu ainda esteja aqui e que ainda consiga encontrar algum sentido em tentar expressar tudo isto de uma forma ou de outra. Desistir e se deixar levar é extremamente tentador.

Extremamente tentador.

E acredite quando eu digo, o que segura e impede um suicida não é o medo do que pode vir a seguir, mas de que a dor seja ainda pior no processo de morrer e, principalmente, a capacidade de conseguir encontrar alguma beleza no meio dessa entropia que chamamos de vida.
Apesar de todos os estereótipos a nós, depressivos e suicidas, atribuídos, posso garantir que somos em maioria extremamente sensíveis e empáticos, e a raiz de nossa dor aí reside. Muitas vezes nos fechamos e escondemos, não por egoísmo, mas por medo. Da dor, da perda, do sofrer do outro. Quando entendi isso resolvi tentar mudar de postura. Ao invés de me esconder e tentar escapar dessas coisas, resolvi abraçá-las e delas tirar a razão de aqui seguir. Porque eu não pretendo, enquanto aqui estiverem pessoas que eu amo, deixar esse lugar. Não por vontade própria. Não vou deixar que carreguem o fardo de viver sozinhos. Com eles vou seguir tentando encontrar o belo nas pequenas coisas. Lembrar com ternura de cada abraço, de cada sorriso, rir e se emocionar com cada obstáculo vencido, independente do tamanho. E me emocionar com todos os vídeos de cachorro que eu puder.
Eu nunca acreditei em ordem natural das coisas, seres superiores ou destino, mas se quaisquer dessas coisas é real em algum nível, o meu chamado, a minha natureza, é estar aqui por vocês e pra vocês. Vocês sabem quem são e espero que saibam da minha sinceridade no que digo aqui.

"[...]
Oh I'm a lucky man
To count on both hands the ones I love
[...]"


Eu vou seguir lutando pra nunca abandonar vocês.

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